A decadência estética abandonou o plano do imaginário

Publicada por Higuita | | Posted On terça-feira, 7 de julho de 2009 at 01:22

Os adolescentes e jovens adultos são um, mais que certo, cancro estético.
Vexam todos os domínios da arte, padronizando e trivializando os gostos, ao canalizarem a atenção estética da humanidade, no seu conjunto mais imediato, para formas de expressão retrógradas, decrépitas e demagógicas, ao invés das visionárias, salutares e pedagógicas.
Por forma a fundamentar a conclusão inclusa na primeira oração complexa deste meu escrito, permitam-me a recorrência a exemplos. Sim, sei que posso ser induzido ao erro de uma generalização precipitada, tão repudiada pela lógica informal. Contudo, farei por me dar a um desvelo que me aparte de tal incongruência.


Produções cinematográficas – Crepúsculo

Uma película baseada no argumento adaptado do livro de Stephenie Meyer, o best-seller mais afirmativo de uma decadência intelectual, no respeitante a conteúdo, já que da forma pouco se poderá recuperar.
Com um elenco medíocre, no qual se conta a protagonista, de tão reconhecido talento que não se me chega o nome à memória, tributo à progressiva decadência enraizada no cinema com o advento de tecnologias cada vez mais aprimoradas. Uma nova “pérola” do mundo dos actores de “décima linha”, entre os quais constam grandes prisões de ventre como Zac Efron, Daniel Radcliff ou Vanessa Hudgens. Em todo o caso, um ser que transcorre toda a película com o mesmo focinho mórbido e apático. Lamento não ser detentor de uma força de vontade tal que me vincule assaz ao vernáculo com que venho redigindo, mas no premeio de tal degredo tendem a enlevar-se factores humanos de cariz sentimentalista, como é o asco que nutro por este sub-produto racional: “Raios atinjam fulgurantemente os pacóvios mentecaptos que se deram ao emprego da elaboração de tal merda! Não possuíam, ao menos, um sentido estético tal que livrassem o mundo desta maleita e produzissem algo que pudesse adquirir uma valência positiva na escala valorativa dos cônscios nesta temática?!”.
A par de tudo isto, o parecer abstruso da MTV Movie Awards, que presenteou, no ano corrente, esta película com o prémio máximo, entre outra meia dúzia deles, o que só atrubui razão a quem tece injúrias à elite que decide por estas consagrações.
Ainda que os mais exigentes críticos, por esta altura, já se vejam de tal forma apoquentados que anseiem por um saco para o qual possam regurgitar o almoço, há que esquadrinhar a atitude por parte de Stephenie Meyer. Afinal, que decisão tomaria alguém que, adaptada à teoria da sobrevivência do mais apto aplicada à sociedade vigente, agonizasse por se ver privada de uma realização pessoal precoce, pautada pela abastança financeira e prosperidade continuada? De certo algo similar ao que efectuou Stephenie Meyer.
De frisar que todas estas considerações possuem igual grau de valimento quando aplicadas à obra literária com a mesma nomenclatura.


Produções sonoras – Jonas Brothers, Hannah Montana, Tokio Hotel e afins

Antes de mais, permitam-me anexar este vídeo:


E, agora, parafraseando Jaimão, “O que é esta merda?”, “O que é esta merda?”. Já não bastava a artificialidade imbuída nas sonoridades vocais por editores de voz, viemos a ser molestados por um grupo de malogrados encabeçado por um soturno jovem com pretensões de se tornar no primeiro híbrido sexual humano. Isto, meus dilectos leitores, não é mais nem menos que um impropério explícito aos hermafroditas naturais. Há pessoas cuja compleição é denegrida, aprioristicamente, pelo simples facto de não lhes haver sido agoirada uma aparência dita vulgar, enquanto que outras tudo fazem para enaltecer em si mesmas esse aspecto.
Mas não pretendo realçar em demasia esse tal conjunto militado por um desnaturado sem escrúpulos.
Jonas Brothers. Outro ajuntamento de suínos, ainda que mais viril que o anterior. E, a pergunta ressoa, retumba, rumoreja, “O que é esta merda?”.
Hannah Montana, idem.
E, tendo presencial a inconveniente ocorrência que marcou a passada quinta-feira, o falecimento do Rei do Pop, Michael Joseph Jackson, indago: “O que resta à música?”. É certa a existência de vozes preclaras como José Carreras, Demis Roussos, Elton John, Chico Buarque, entre outros. E, quando estes senhores forem, por fim, levados? Arrisco vaticinar o desaguar da música em águas fétidas, marcadas por modas e caprichos volúveis.
E, mais uma vez, quem perfila no alvor desta tendência inglória? Os adolescentes e os jovens adultos, ou as formas “pseudo” destes mesmos.

Ao invés de me deitar a uma incursão pelas não menos inóspitas e hostis paragens do mundo livreiro, enfatizo a supracitada obra, que espelha na medida exacta a realidade vivenciada quotidianamente.


E que ilações de tiram de toda esta parafernália psicadélica, da qual somos contemporâneos?
É mister, ainda que aparentemente utópico, almejar um admoesto condigno aos jovens aspirantes a adultos eruditos ou, pelo menos, de interesse cimentado na concupiscência, salvaguardando uma margem de manobra razoável, na qual as artes possam retomar o rumo natural que vinham a seguir de há séculos, impelidas recentemente por um trâmite difuso e devasso. O qual, pior que a estagnação, traz um retrocesso não invertível.

“Só sei que nada sei.” by Sócrates de Atenas

Vídeo Bónus:

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